MACHU PICCHU 2009 - Relatos da Viagem - Parte 3

11º dia – 22-11-2009 – 835 km
Acordamos cedo e saímos de Cusco, com objetivo de chegar a Tacna, ou o mais próximo possível. Esse seria um dos dias com maior desnível da viagem, iríamos sair da altitude para o nível do mar.
Há 200 km de Cusco, no sentido Juliaca, passamos por um ponto, a cidade de Kunurana, onde havia a indicação que estávamos há 5420 metros de altitude. As fotos tiradas naquele ponto ficaram excelentes, pois de um lado havia o vilarejo e esta placa...

...e do outro, uma paisagem incrível com os picos nevados daquela região, sensacional!

Fizemos uma passagem pela cidade de Juliaca, ou melhor dizendo, pelo caos de Juliaca. A cidade é movida a buzina. Transito caótico, desrespeito total pela motocicleta ou por todos que transitam nas vias estreitas e exóticas do lugar. O GPS indicava a entrada da cidade e a saída para a rodovia 112, que pretendíamos pegar, mas como esta parte da cidade estava em obras, fizemos um desvio pelo centro da cidade. Radical, no mínimo!
Passamos por mercados a céu aberto, onde se vendiam de tudo. Chamou-nos atenção os “açougues” no caminho, com as carnes todas expostas praticamente na rua, além das próprias ruas, nada regulares, bastante fácil de perder. Obrigado GPS, entramos na 112, sentido Arequipa.
Saímos de Cusco com 3400 metros de altitude, passamos pelo ponto de 5420 metros e começávamos a descer muito rápido. Chamou-me atenção ao índice de descida do GPS, que marca em metros verticais por segundo. Houve um momento em que passou de 2 m/s. Finalmente estávamos chegando ao nível do mar. Desnível de mais de 4000 metros naquele dia, incrível em todos os sentidos: temperatura, pressão, umidade!
Chegamos a Moquegua, e decidimos ser ali nosso pernoite. Ficamos no Hotel Colonial (S17 11.108 W70 55.783), bem na frente do Estádio Municipal. Indicados pela atendente do Hotel saímos à noite para comer um “Pollo”, num restaurante relativamente perto dali. Pedimos ¼ de Pollo para cada, tomamos cerveja Cusqueña e cantamos Parabéns para um dos integrantes (não era aniversário, mas em todos os restaurantes fazíamos isso). Dessa vez foi o Renato, e na saída de um dos clientes, ele veio e deu os Parabéns para ele, hilário!
12º dia – 23-11-2009 – 489 km
Saímos de Moquegua com destino em Iquique. Nossa primeira parada seria a cidade de Tacna, que dá nome a indústria no Cezar Fuchs.
Foi emocionante a chegada à cidade, principalmente para ele que estava apreensivo com a possibilidade de ter batizado sua empresa com o nome de uma cidade ruim. Foi o contrário! Tacna é uma cidade super desenvolvida, organizada, com semáforos eletrônicos, comércio atuante e organizado, postos de combustíveis limpos, e com banheiro (quase um milagre durante a viagem), enfim, foi um alívio para ele e também uma surpresa para nós. Paramos no centro da cidade para comprar água, alguma comida e conhecer o lugar. Valeu à pena!

Saímos de Tacna rumo à fronteira do Peru com o Chile. Seria nossa 4ª fronteira e prometia ser a menos onerosa, em termos de pagamento de propina. O Chile tem fama de ser “os Estados Unidos” da America do Sul. A paisagem já estava mudando, os carros que víamos nas ruas também, parecia mesmo ser um lugar mais rico.

Chegando á aduana Peruana, apenas tivemos que mostrar os documentos, com a permissão de transito no Peru e seguimos direto à Aduana Chilena. Chegando lá fui informado que deveria ter adquirido um papel para preencher com meu nome e demais dados, em Tacna, para os tramites aduaneiros. Logo apareceu um cidadão que os vendia ali mesmo, 2 dólares cada. Lógico que compramos e seguimos com o vai e volta das aduanas para entrar de forma regular no Chile.
Vale dizer que todas as aduanas são burocráticas. Mesmo a do Brasil com a Argentina, onde no meu caso em Foz, nem se desce da motocicleta, dá trabalho e deve-se estar com todos os documentos em dia e à mão. Fizemos toda a “via sacra” e seguimos rumo à Iquique.
Em Arica, logo após a aduana, vimos pela primeira vez na viagem o Oceano Pacífico. Fomos recebidos na cidade com um “enxame” de paragliders, que sobrevoavam a orla marítima, lindo demais! Paramos em uma praia na cidade de Arica mesmo para ver o mar!
Já na estrada, a paisagem era outra. Pedras e areia, alias, plantações de pedras, mesmo estando perto do mar. A paisagem no Chile é desértica, muito seca e arenosa, mas linda!
Perto do vilarejo de Solón Chaves, existe uma decida, onde o desnível é de 1200 metros, que possui pelo menos 24 quilômetros de extensão e leva até o Controle Aduaneiro de Cuya, muito legal!
Seguimos então para o próximo ponto de nossa viagem, que seria a Oficina Salitera de Humbestone, já bem perto de Iquique, na cidade de Pozo Almonte. Faltando algo como 100 quilômetros para chegar, já eram 17 horas, percebemos que estávamos apenas em 4 no grupo de motos. Paramos e resolvemos voltar para ver se havia acontecido algo. Um pneu furado, na moto do Vilson. Diga-se de passagem, um pneu agregador! Por que após esse acontecido, percebemos realmente o valor de um grupo. Acertaram-se as diferenças para andarmos juntos, usou-se uma coisa de cada integrante, câmara de um, ferramentas de outro e, por fim, trocamos a câmara e seguimos bem mais unidos rumo então a Pozo Almonte. Como já estava escurecendo, decidimos por pernoitar na cidade para visitarmos a Oficina na manhã seguinte e ai então seguirmos rumo ao Litoral do Pacífico. Acertadamente!
Ficamos em um Hotel na via principal da cidade, Hotel Estancia Inn (S20 15.650 W69 47.144) na Rua do Comercio.

Jantamos no Hotel mesmo e tomamos todos os vinhos que havia no estoque. Fomos muito bem atendidos lá!

13º dia – 24-11-2009 – 624 km
Saímos bem cedo do Hotel após um bom café da manhã (bom significa café e pão), e fomos visitar a Oficina Saliteira de Humbestone. Trata-se de uma usina de benefício de sal que foi abandonada pelos americanos. Lá estão todo o maquinário, cidade com hotéis, igrejas e comércio, automóveis e maquinas ferroviárias, todos disposto de forma que o visitante possa ver como funcionava, com explicativos pelo caminho, porém deixados como se tivesse sido abandonado mesmo e a ferrugem tivesse os consumido. Sensacional! Vale demais a visita!

Humbestone está bem na entrada da Rodovia 16 que leva a Iquique, no ponto S20 12.401 W69 47.587. A visita custa o equivalente a 2 dólares, tem estacionamento à porta e pode-se ainda comprar algumas lembranças do passeio no comercio que existe lá dentro mesmo, onde antes havia uma galeria comercial.
Após a visita pegamos novamente a estrada rumo finalmente a Iquique, com objetivo em Antofagasta. A idéia era chegar ainda de dia, à Mão do Deserto, 52 km de Antofagasta.
Iquique está no litoral do Oceano Pacífico e assim fomos, ao lado dele, até Antofagasta. Fizemos algumas paradas no caminho para visitar praias desertas, assim como as estradas. Não se vê muita coisa nesse caminho, além de montanhas de um lado e o mar do outro, mas a visão é sensacional!

Passamos por Tocopilla e seguimos já no finalzinho da tarde para nosso objetivo, a Mão do Deserto. Chegamos lá já bem no final da tarde e a vista, ainda na estrada, há alguns quilômetros dela, foi muito emocionante. A Mão do Deserto é um monumento, à beira da rodovia 5, há 52 quilômetros da cidade de Antofagasta, construído de forma que podemos vê-la bem de longe. Foi demais! Tiramos várias fotos e seguimos de volta a Antofagasta, onde nos hospedamos em um hotel no centro da cidade, Hotel Puerto Mayor (S23 39.009 W70 23.677).

Jantamos no centro da cidade mesmo, em um restaurante onde comemos um delicioso salmão, junto a várias garrafas de Bud e um bom vinho também!
14º dia – 25-11-2009 – 367 km
Saímos cedo de Antofagasta com destino a San Pedro de Atacama, nossa última parada no Chile. No caminho fomos até a cidade de Calama, para visitar a famosa mina de cobre de Chuquicamata. Esta é a maior mina de cobre a céu aberto do mundo, respondendo hoje por 35% do cobre utilizado na face da terra.

E os números são impressionantes, bem como o tamanho da tal. Chuquicamata tem tudo de gigantesco. Desde sua imponente entrada, caminhão, quantidade de carros de apoio, até os famosos Caminhões de pedra, que carregam até 400 toneladas e cada pneu deles mede 4,60 metros. Incríveis de se ver. Tiramos muitas fotos e fizemos também alguns vídeos, mas em nenhum deles se tem a verdadeira dimensão do lugar. Deve-se agendar a visita antecipadamente, coisa que não fizemos, mas a atendente, logo na portaria, nos informou ser possível a visitação, se o ônibus que levaria a tal não estivesse lotado. Esperamos algo em torno de 2 horas até a chegada do ônibus e tivemos a sorte de terem sobrado lugares suficientes para nós todos.

Ônibus com ar condicionado, uma benção em um lugar de extremo calor. Inicialmente visitamos a cidade onde moravam, há até bem pouco, os operários da mina e, em seguida fomos até o local onde existem as escavações para chegarem até o cobre. Tudo muito grande e organizado. Os imensos caminhões andam em mão inglesa por que o motorista tem a necessidade de ver de perto o precipício ao seu lado para não cair com o caminhão dentro. Imagino que seria um acidente absurdo e de difícil resgate, dado a altura dos paredões formados pela escavação.
O passeio leva umas 2 horas e vale cada centavo (não é pago, mas pedem uma colaboração em dinheiro que é destinada às obras assistenciais da cidade de Calama).

Neste dia saímos de Antofagasta, ao nível do mar, para novamente atingir a altitude de 3400 metros, já chegando a Atacama.
A entrada no deserto do Atacama é sensacional! A paisagem, apesar de já vir vendo areia por muito tempo, muda bastante. E assim, chegamos ao famoso deserto, objetivo de muito viajantes pelo mundo.

Antes de chegar à cidade de Atacama propriamente dita, fui (desta vez sozinho) visitar o Vale de La Luna, que nada mais é que formações rochosas há uns 20 quilômetros da cidade, que lembram e muito a superfície lunar. Vale a pena também a visita.
Custam $ 2000 pesos, o equivalente há uns R$ 5,00.

Combinamos de nos encontrar no único posto de combustíveis da cidade, aonde cheguei após o passeio e encontrei meus companheiros, já abastecidos, me esperando. Fomos em direção a uma indicação de hotel que tivemos e lá nos instalamos. Hotel Don Raul (S22 54.688 W68 12.194), o mais caro de toda a viagem, o equivalente à $ 33 dólares. À noite demos uma volta na exótica cidadezinha e jantamos em um ótimo restaurante onde fomos muito bem atendidos e comemos uma pizza chilena (parecida com um calzone) regada a muito “pisco”.

15º dia - 26-11-2009 – 541 km
Saímos bem cedo para passar na aduana chilena que fica dentro de San Pedro de Atacama. Chegamos lá 6 horas da manhã, mas a mesma só abriria às 8. Ficamos sentados até o horário, quando já estavam lá também vários caminhoneiros e visitantes do local.

Passamos sem maiores problemas pela aduana Chilena e seguimos à aduana Argentina, já em Passo de Jama. Estrada sensacional, com direito à vista do Vulcão, ao lado da estrada grande parte do trajeto. Neste ponto, entre Atacama e Jama, atingimos o ponto mais alto da viagem (real, medido no barômetro do GPS), de 4808 metros. Em Jama, já na Argentina, também sem maiores problemas. Seguimos então para nossa parada do dia, General Martin Miguel Guemes, pertinho da cidade de Salta.

Na saída de Passo de Jama existe uma estrada conhecida dos moto-viajantes, os “Caracoles”, que fizemos questão de passar e tirar várias fotos, margeados por vários e enormes cactos. É uma estrada longa, cheia de curvas onde “quase se vê a placa da moto”. Passamos também por vários salares ou desertos de sal, parando no Salar Grande para pegar um pouco de sal e dar uma volta muito plana com a moto neles. Pra mim foi uma das melhores sensações da viagem.

Passamos por San Salvador de Jujuy e chegamos então a General Guemes, onde nos hospedamos no Hotel Roman (S24 40.534 W65 02.977) na beira da Rodovia 9. Instalamo-nos, tomamos banho e fomos até um “restaurante” do outro lado da rodovia para saborearmos uma Parrillada de caminhoneiro. Indicados pelo Cezar que já havia passado pela experiência, comemos a tal e por um milagre estou aqui contando tudo isso. A parrillada tinha de tudo, além de carne. Muita coisa suspeita, arenosas e afins, mas, tudo é aventura!


16º dia – 27-11-2009 – 1036 km
Acordamos vivos, bem cedo para seguir até Ituzaingó novamente, onde seria nossa despedida, minha com os amigos do Rio Grande do Sul. Desta vez foi só andar, nada de visitas ou passeios, mas também foi muito bom. As estradas argentinas são ótimas, sem falar no povo que também é bastante receptivo e prestativo com os visitantes.
Chegamos a Ituzaingó bem no final da tarde e fomos ao mesmo Hotel da Ida, o Che Recovi, onde novamente fomos bem recebidos, mas desta vez jantamos no restaurante bem ao lado do Hotel. Comemos uma pizza e tomamos várias Brahmas!
17º dia – 28-11-2009 – 1616 km
Saí às 5 horas da manhã de Ituzaingó para chegar a Campinas, SP, fazendo um desafio Iron Butt, de 1000 milhas em 24 horas, só pra fechar o passeio com chave de ouro. O restante do pessoal saiu um pouco mais tarde rumo a Santo Tomé para a entrada no RS.
Saí cedo por que além do trajeto longo, ainda tinha o receio daquela polícia, relatada aqui no início, na província de Posadas. Mas passei por eles sem maiores problemas, no inicio da manhã, alias, sem maiores problemas como todo o trajeto do último dia. Sensacional novamente!
Passei pela aduana da Argentina e do Brasil, pelo parque do Iguaçú, por Maringá, onde desta vez apenas liguei pro amigo Emerson para falar de minha passagem e, a partir de lá, tomei toda a chuva brasileira até chegar a Campinas, às 3 horas da manhã, após 1616 quilômetros percorridos.

Foi a viagem dos sonhos!
Tudo deu muito certo!
Além de um pneu furado, não tivemos nenhum problema, nem sequer uma discussão entre o grupo.
Só tenho a agradecer á Deus pela oportunidade de conhecer pessoas e lugares tão incríveis, de forma tão simples e pela possibilidade de desfrutar de tantas boas amizades, que ficarão comigo para o resto da minha vida!
Preciso agradecer também pela saúde que tivemos, todos nós, do começo ao fim e pela felicidade de conseguir fazer tantos quilômetros em tão pouco tempo de forma tão agradável!
Para mim, foi um total de 10.545 km.



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